quarta-feira, 20 de novembro de 2019

A parte ruim de morar na Arábia Saudita

Como sempre falo, toda moeda tem duas caras, e é claro que tem muitas coisas ruins de morar na Arábia Saudita. Mas não, não nenhum dos pontos que vou mencionar estão relacionados com a Arábia Saudita que você conhece da TV.




Antes que alguém se manifeste falando: se não gosta, então vai embora, primeiro vem minha missão em ajudar quem está analizando a proposta de se mudar pra cá. Também não quero desrespeitar a cultura de ninguém. É só uma visão sincera de alguém que veio de outra cultura e outros hábitos.

Eu, mesmo com as coisas ruins, nem nos meus dias mais difíceis me arrependi de vir morar aqui. Então, esse texto é mais no sentido de ser honesta e não florir tudo, em contar que tem coisas que não são legais e que vai ser necessário ter um jogo de cintura para se adaptar e conviver pelo tempo em que estiver por aqui.

Vamos à elas:


Hora da reza

Eu simplesmente me irrito muito com a hora da reza. Não pela reza em si, pois eu não preciso parar meu dia pra rezar 5 vezes, mas pelo fato de que tudo fecha durante 30 minutos a cada hora da reza.

Nos outros países muçulmanos, isso não acontece... A vida segue normal, quem precisa vai e isso não interfere em nada... Até porque a reza em si leva uns 5 minutos para eles performarem o ritual.

Porém aqui é muito inconveniente. Você precisa se programar antes de sair de casa para não dar de cara com as portas fechando no momento que você chega.

E isso que o horário muda em alguns minutos todos os dias.

Tem duas orações que deixam um intervalo de uma hora entre o fim de uma e o início da outra. Então se você resolve sair nesse horário, precisa fazer tudo às pressas para não entrar na próxima reza.

Eu fico imaginando o quanto as lojas não perdem de vender por fechar tantas vezes. Eu várias vezes deixei de comprar algo, porque ainda não tinha terminado as compras e era gentilmente convidada a me retirar da loja pois ela iria fechar pra reza. É logico que eu não ia esperar 30 minutos do lado de fora só pra voltar e continuar a compra. Pro meu bolso até que fez bem.

Ou cada mini ataque cardíaco que tenho quando tenho que sair correndo pra conseguir chegar em algum lugar antes que ele feche.


Calor Calor Calor

O calor no verão é brutal. Pode chegar a 50 graus. Ao menos, aqui temos ar condicionado em praticamente todos os lugares, o que ameniza a sensação de cozinhamento. Mas qualquer ida até o carro, ou caminhadinha na rua é como estar em um forno.

E por mais que imaginem que as abayas são feitas para enfrentar o calor daqui, muito pelo contrário, as abayas pioram ainda mais o calor.

Fora o sol forte que é um veneno pra pele. Eu to cheia de manchinhas no rosto que não tinha antes. Filtro solar é mais que necessário aqui.

Tomar banho à tarde é um perigo! Dependendo onde o reservatório de água fica, até a torneira de água fria vem quente o suficiente pra machucar a pele.


Ter que usar a abaya

Ter que usar a abaya é algo muito chato, mas em algumas ocasiões, muito conveniente.

Na cultura muçulmana, as mulheres precisam usar roupas modestas, e aqui na árabia o modesto foi interpretado com: tudo preto e apenas um buraquinho para os olhos. Não é o melhor lugar para questionar a modéstia porém, pois por baixo da abaya podem estar com roupas de marcas caras, bolsas e sapatos de grifes de luxo. Então modéstia é bem relativo. Outros países muçulmanos consideram modéstia apenas cobrir os cabelos e evitar decotes e roupas muito justas.

Mas aqui, temos que usar a abaya mesmo.

Até que hoje em dia está um pouco mais flexível: abayas coloridas, quem não é muçulmano cobre a cabeça se quiser. Mas ainda assim precisa cobrir o corpo.

A única parte em que é conveniente é que se estamos com pressa e com roupa de ficar em casa, é só colocar a abaya por cima e ninguém precisa saber que você você vai ao shopping de pijama.


Não ter opções de lazer

Na Arábia, ou você come ou compra.

Opções de lazer pra gente são bem limitadas. De um tempo pra cá algumas coisas estão mudando. Cinemas começam as ser instalados, porque antes eram proibidos. Eventualmente tem alguma feirinha, exposições, bazar beneficentes. Mas tudo muito tímido e restrito aos locais. A não ser que você tenha amigos árabes que te contem as coisas que acontecem pela cidade, se você vive numa bolha entre expatriados, não tem como saber do que está acontecendo.

Tem shows, exposições, apresentações de música, mas como mencionei, nada é divulgado em grande escala. A não ser eventos realmente grandes, como as "Seasons” que começaram a acontecer esse ano aqui no país. Com shows de artistas internacionais, nesse caso a divulgação foi grande.

Já dentro dos compounds a coisa muda de figura, os expatriados se reúnem nas casas de amigos para festinhas, reuniões, organizam times de vôlei ou futebol, criam clubes de música, de livros. Nós aqui até festa junina já tivemos... Qualquer coisa para passar o tempo. Mas isso claro, você precisa conhecer as pessoas para saber o que está rolando.

Nem todo mundo mora em compounds legais que tem opções de lazer a oferecer.
A moda do momento, no entanto, são os cafés e os restaurantes que oferecem “shisha”, que é o narguilé.


Areia pra todo lado

O visual das cidades é muito monótono. Quase não temos verde, apesar de que em algumas ruas principais as flores são mantidas através de irrigação, um pouco de grama aqui ou ali e muitas tamareiras pra completar o visual típico de Arábia Saudita, o resto que vemos é areia e mais areia.
Até os prédios e casas são todos nesses tons arenosos, sem cores vibrantes.

O que com o tempo enjoa um pouco. Alguns lugares tem prédios incríveis e muito modernos, outras regiões parecem cenário de guerra com prédios muito antigos e sem manutenção. É um misto de arquitetura típica e arrojada.

E muitos, mas muitos terrenos vazios, só com areia, pedras e lixo espalhado.


A burocracia e o Inshallah

Uma parte bem ruim da cultura daqui é o fato de você nunca ter certeza quando pergunta alguma coisa. Os árabes nunca admitem não saber sobre o assunto, eles dão um jeito de te responder.
Só que aí você não sabe se é daquele jeito mesmo.

Várias vezes iamos procurar algum serviço e um funcionário dizia uma coisa, e se voltássemos em outro horário, outro funcinário dizia outra coisa.

A impressão que se tem é de que ou não existem regras claras, ou elas mudam com muita frequência, ou é preguiça de procurar a resposta.

O inshallah é algo como "se Deus quiser", e a gente brinca que quando você pergunta e a resposta for inshallah, é porque a resposta na verdade é não.

Claro que no Brasil também temos a tal da burocracia, e isso por aqui também é parecido às vezes.

Mas burocracia e demora não é um ponto positivo independente do país.


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