Quando você vai morar em outro lugar, não tem nada mais natural e humano do que cometer gafes. Ainda mais quando a cultura e os costumes são extremamente diferentes dos seus.
No texto de hoje eu separei cinco micos que a gente cometeu, principalmente nos primeiros anos morando aqui. Eu confesso que sou tão chatinha, pesquiso e observo muito, que não tenho tantos micos assim pra contar. Mas mesmo me cuidando, não escapo de alguns tropeços.
1. A Conversão do Camilo
Logo que cheguei na Arábia, fizemos amizade com um casal saudita. Era época de Ramadan, e o homem um dia nos convidou para um Iftar, que é a quebra do jejum ao pôr do sol, pois eles passam o dia jejuando nessa época. Fomos eu, meu marido e ele até uma praia e montamos o pic nic. Um pouco antes do pôr do sol, meu marido por curiosidade perguntou várias coisas sobre a religião, e o cara convidou ele para rezar junto. Meu marido, de curioso, foi.
Eu fiquei de longe só observando. Fizeram o ritual de lavar as mãos, os pés... e ele então falou para meu marido repetir algumas frases em árabe.
Nesse ponto eu comecei a achar tudo muito estranho e corri pesquisar no Google como funcionava a conversão ao islamismo. Na pesquisa li que a pessoa precisava repetir algumas frases e que também era necessário uma testemunha. Dei um pulo e falei pra mim mesma: eu que não vou ser testemunha dessa presepada. E dei no pé. Corri para o banheiro.
Quando voltei, o amigo estava radiante falando sobre a religião e tudo que meu marido deveria fazer no dia seguinte, iniciar o jejum e onde ele deveria ir para alterar os documentos mudando de religião.
Eu estava suando frio de nervoso e rindo muito por dentro.
Quando chegamos em casa meu marido se deu conta da confusão e no dia seguinte quando o amigo mandou mensagem perguntando como estava o jejum, meu marido esclareceu que foi tudo um mal entendido, que apenas tinha curiosidade e que achava interessante aprender, mas que não estava preparado para uma conversão. O amigo entendeu a situação.
Essa história ainda rende muita risada e somos amigos daquela família até hoje.
2. Jantar na casa do tio
Ainda logo que cheguei, esse mesmo amigo árabe nos convidou para um jantar na "casa do tio". Eu tinha acabado de chegar, não conhecia os costumes, e na minha interpretação um jantar na casa do tio era uma coisa pequena, só a família, todo mundo junto. Meu marido também imaginou algo parecido.
Então aceitamos e na hora de me arrumar, na minha inocência, coloquei uma calça jeans, camiseta e tênis, pois iria colocar a abaya por cima, então estava tudo ok. Pouco ia importar o que ia vestir por baixo.
Mal sabia eu...
Ele veio nos buscar e no caminho descobrimos que o tal tio era dono de várias empresas. O "jantar" era parte das festividades do Ramadan, sendo esse jantar oferecido para um número grande de convidados, numa casa enorme e luxuosa.
Então ele para o carro em frente a uma porta e fala para eu descer e entrar. As festas de homens e mulheres eram separadas!
Eu não conhecia ninguém, mas encarei o desafio e fui. Bati na porta.
A primeira coisa que a menina que abriu a porta fez foi fazer sinal para eu tirar a abaya. Quando levantei o olho e vi o resto das convidadas, a minha vontade foi de me enrolar na abaya e não tirar ela por nenhum decreto! TODAS estavam super arrumadas, cabelão volumoso, vestido de festa, maquiagem impecável e eu ali: de tênis, calça e camiseta, praticamente pronta para ir dormir, a única ET desavisada. Que vergonha!
Mas todas foram muito queridas e fizeram de tudo para que eu me sentisse à vontade. No fundo deviam estar pensando: que louca essa estrangeira.
3. Cumprimento
Uma situação constrangedora que acontece não só comigo, mas ja ouvi de muita gente, é quando um estrangeiro vai cumprimentar um muçulmano do outro sexo e fica no vácuo, com a mão no ar, porque isso não é certo na cultura deles.
Acontece geralmente assim, quando estamos em um ambiente informal, no meu exemplo foi em um jantar de brasileiros. Tinha esse casal de muçulmanos em que o homem era brasileiro, e por ser brasileiro, a gente relaxa um pouco. Estendi a mão para cumprimentá-lo e ele simplesmente colocou as mãos para trás e acenou com a cabeça. E eu fiquei lá, com a mão no ar.
Sabe aquela brincadeira de criança do "toca aqui! Deixa que eu toco sozinho!"? Em que a gente fica com cara de pastel com a mão no ar? Então, eu fiquei assim, com essa cara de pastel.
4. Os beijinhos
Outro miquinho de leve quanto à cumprimentar é a questão dos beijinhos no rosto.
As árabes se cumprimentam com muitos beijinhos na bochecha, assim como a gente, só que para elas é de um lado só do rosto. E quanto mais íntimo da pessoa você é, mais beijinhos você dá. Então elas ficam ali naquela dança do beijinho: 3, 5, 10 beijinhos de um lado só.
Eu sou acostumada com dois ou três beijinhos, mas um em cada lado do rosto. Então toda vez que vou cumprimentar uma árabe e esqueço de ficar no mesmo lado, acabo sempre dando um beijo e tiro o rosto pra dar o segundo do outro lado. E elas ficam esperando o segundo do mesmo lado.
Aí fica uma situação tão esquisita de um vai e vem, numa dança do constrangimento, até o cérebro entender o que está acontecendo e eu voltar pro mesmo lugar e continuar o cumprimento do jeito deles.
Só que eu nunca sei quantos beijos são suficientes, então dou dois e fico tentando fugir, enquanto elas continuam tentando dar mais beijinhos. Vira sempre em risada no final.
5. Fila Masculina e restaurante
Aqui quase tudo é segregado. Tem fila para homens e mulheres, espaço separado para homens solteiros e famílias nos restaurantes, etc.
Uma vez em uma fila, estava eu bem bela, esperando uns bons minutos junto com os outros, até que alguém me cutuca e aponta para a fila do lado, que estava vazia. Lá era a fila de mulher. Eu estava na dos homens. Não precisava ter esperado para ser atendida.
Outra vez, em um restaurante, eu quis sentar nas mesas do lado de fora (que costumam ser reservadas para os homens solteiros). Eu pude curtir muito pouco a vista privilegiada, pois o garçom pediu gentilmente para que eu entrasse, pois ali eu não poderia ficar. Fui bem triste pra dentro.
Não é um problema grande estar no lugar errado. Não acontece nada. Só é um pouco estranho.
Eu tenho certeza que tem micos muito mais cabeludos e bem mais engraçados das pessoas que moram ou moraram aqui. Eu não tenho muitos porque procuro pesquisar e observar como os outros se comportam. Mas to louca pra ouvir as histórias interessantes que talvez você tenha pra contar.
Compartilha comigo nos comentários se você já passou por alguma sitação engraçada ou constrangedora em algum país árabe!
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